Há 13 anos
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
Quando o pai, assim como o papai noel só aparece no natal...
Tarde do dia de natal. Antes de entrar na lotação vejo uma menina de aproximadamente três anos de idade, ela está ao lado de um homem, suponho que seja seu pai, ela chora gritando sem parar, suponho que seja "manha". Entro na lotação, a mesma começa a andar. A criança continua a chorar com pequenas pausas para retomada de fôlego. O "pai" tenta sem sucesso silenciar o choro. Aqueles pulmõezinhos saudáveis irritam os tímpanos de todos os passageiros. Mulheres entram, sentam perto do pai e filha e começam a interagir. Perguntam onde está a mãe dela. O pai responde que ela ficou em casa. As mulheres oferecem alimentos para a menina que para de chorar, enquanto o pai explica que a menina sempre estranha ele no começo quando ele vai buscá- la. Aí a gente entende que aquele choro pode ser saudade da mãe, aliada a falta de intimidade, entrosamento com o pai. E que mundo afora nesse momento pode ter outros choros como esse... E outras lágrimas pelos pais que sequer procuram contato com seus filhos, nem no natal, nem no resto do ano...
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segunda-feira, 30 de novembro de 2015
Sede numa tarde calorenta no busão
Era início da tarde, um sol de rachar, peguei a lotação que vai para minha casa, não tinha lugar para sentar, mas o caminho seria curto. Quando me acomodei de pé, abri minha mochila e peguei uma garrafinha de água, inclinei a cabeça e tomei um belo gole, quando terminei meu olhos se encontraram com os olhos de um menininho, sentado ao lado da irmã menor, a mãe de pé ao lado dos dois. Olhei para ele, ele estendeu sua pequena mãozinha, em sinal de que queria compartilhar daquela água, antes de mover as mãos olhei para a mãe dele, não vou fazer algo se ela não permitir. Inicialmente ela disse que não precisava, que eles já estavam chegando em casa. O menininho interrompeu a mãe e disse que estava com sede, sua irmã menor ao seu lado também se manifestou. A mãe aceitou a garrafinha de água das minhas mãos e deu aos dois filhos, um golinho para o menino, um golinho para a menina. A mãe preocupada porque eu ia ficar sem água. Respondi que também estava chegando em casa. O menino pediu um segundo gole, a menina também. Recebo a garrafa vazia de volta e vejo rostinhos satisfeitos. A mãe agradece, um pouco depois eles descem e vão caminhar alguns metros até sua casa, com um pouquinho mais de disposição diante do calor e eu com um pouco mais de disposição diante da vida. Fazer o bem pode ser tão fácil!
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sábado, 31 de outubro de 2015
A bêbada e os equilibristas de lotação
Aquele momento numa lotação bem cheia numa noite chuvosa. Dou o lugar para uma mãe com criança. Depois de um bom tempo consigo um outro lugar para sentar e seguro bolsas de duas mulheres. Uma mulher diz que eu tive sorte porque tinha dado lugar para alguém. O motorista para e o povo reclama dizendo que já está lotado. Uma mulher entra e em resposta a reclamação diz que estava na rua se molhando. Ela fica falando sozinha, eu fico me perguntando se ela é espontânea ou se está bêbada, pois essa mulher reclama que outra mulher bateu nela. A outra mulher, a acusada de bater, diz que foi sem querer e pede mil desculpas. A mulher que 'apanhou' reclama. Passam alguns pontos e a mulher desce e continua falando sozinha. O povo todo da lotação começa a rir depois do mal entendido, mesmo de pé apertado, cansado, longe de casa, rir é o melhor remédio!
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segunda-feira, 7 de setembro de 2015
Quais são as reviravoltas milagrosas das novelas para as protagonistas mulheres pobres/ periféricas/ suburbanas?
1- descobrir um pai rico (personagens Cristina da novela Império e Marizete da novela I love Paraisópolis
2- ter sorte numa nova profissão com reconhecimento alto e rápido, claro depois de perder quase tudo que tinha anteriormente e recomeçar do zero (personagem Regina da novela Império)
2- ter sorte numa nova profissão com reconhecimento alto e rápido, claro depois de perder quase tudo que tinha anteriormente e recomeçar do zero (personagem Regina da novela Império)
Regina- moradora do morro da Babilônia no Rio de Janeiro, dona de uma barraca na praia. Mãe solteira batalhadora. Depois de alguns problemas pessoais ela perdeu sua barraca. Para sustentar a filha ela vai trabalhar como faxineira num antiquário. Um belo dia ela sugere que as donas da loja abram um restaurante. As donas aceitam e Regina vira gerente do restaurante Estrela Carioca, passa a trabalhar elegante e maquiada. Nem parece a mesma mulher que armava e desarmava barraca na praia debaixo do sol.
Cristina- moradora do bairro de Santa Tereza, trabalhava como comerciante num camelódromo, estudou administração de empresas. Um belo dia descobre que seu verdadeiro pai é o milionário José Alfredo dono da Império. Depois de altos e baixos, Cristina é adotada pelo verdadeiro pai e chega a ser presidente da empresa. Também tem uma mudança no visual e nas suas roupas, deixando de usar lenços que usava nos cabelos.
Marizete (Mari)- Moradora de Paraisópolis, criada por uma amiga de sua mãe biológica trabalha desde os 13 anos. Se apaixona por um rapaz rico. Tenta a vida como imigrante nos Estados Unidos e é deportada.No Brasil trabalha como segurança das crianças que são irmãos de seu amado. Um belo dia descobre que seu pai biológico está vivo é rico e médico. Vai casar com seu amado arquiteto rico
Cristina- moradora do bairro de Santa Tereza, trabalhava como comerciante num camelódromo, estudou administração de empresas. Um belo dia descobre que seu verdadeiro pai é o milionário José Alfredo dono da Império. Depois de altos e baixos, Cristina é adotada pelo verdadeiro pai e chega a ser presidente da empresa. Também tem uma mudança no visual e nas suas roupas, deixando de usar lenços que usava nos cabelos.
Marizete (Mari)- Moradora de Paraisópolis, criada por uma amiga de sua mãe biológica trabalha desde os 13 anos. Se apaixona por um rapaz rico. Tenta a vida como imigrante nos Estados Unidos e é deportada.No Brasil trabalha como segurança das crianças que são irmãos de seu amado. Um belo dia descobre que seu pai biológico está vivo é rico e médico. Vai casar com seu amado arquiteto rico
terça-feira, 4 de agosto de 2015
Num ponto de ônibus
Estava em um ponto de ônibus perto do hospital Dante Pazzanese, depois do trabalho de office filha de buscar remédios para o meu pai. Um idoso começou a falar da demora do ônibus e eu respondi.
Assim ele começou a contar que ia ao hospital quase todos os dias, falou da demora dos médicos, do remédio que toma diariamente, da cirurgia de troca de válvula, da visita da ex esposa, que ele mora sozinho e não pode pagar alguém para ajudá lo, assim ele não quer fazer a próxima troca de válvula. "Se morrer, morreu", ele diz.
O ônibus chega e ele diz para eu passar da catraca onde tem mais lugares para sentar. Disse com um ar de quem achava que já tinha falado o suficiente. Ele ficou sentado na frente no banco de idosos. Eu passei da catraca e fiquei pensando em como a gente administra a vida, a solidão, depois daqueles cinco minutos que interagimos com desconhecidos simplesmente escutando como eu, ou no caso dele, desabafando.
Assim ele começou a contar que ia ao hospital quase todos os dias, falou da demora dos médicos, do remédio que toma diariamente, da cirurgia de troca de válvula, da visita da ex esposa, que ele mora sozinho e não pode pagar alguém para ajudá lo, assim ele não quer fazer a próxima troca de válvula. "Se morrer, morreu", ele diz.
O ônibus chega e ele diz para eu passar da catraca onde tem mais lugares para sentar. Disse com um ar de quem achava que já tinha falado o suficiente. Ele ficou sentado na frente no banco de idosos. Eu passei da catraca e fiquei pensando em como a gente administra a vida, a solidão, depois daqueles cinco minutos que interagimos com desconhecidos simplesmente escutando como eu, ou no caso dele, desabafando.
terça-feira, 21 de julho de 2015
conexão WIFI X conexão com Deus
Um dia eu estava na praça do Pratiarca usando o Wifi Livre SP perto de uma viatura da guarda civil metropolitana. Era uma noite pós chuva. Outras pessoas sozinhas paradas com celulares nas mãos. Enquanto isso ao meu lado seis mulheres estavam em busca de um outro tipo de conexão. E não era um celular que elas tinham nas mãos, mas um terço e entoavam em uníssono uma Ave Maria... A praça pode até ser do Patriarca, mas na hora que a vida aperta é pela mãe que nós chamamos para nos ajudar.
segunda-feira, 1 de junho de 2015
Emprego X Casamento
Quando estou preenchendo currículos em sites e vem aquelas perguntas que fazem me sentir em um casamento, ou em juri, quase levanto a mão prometendo responder a verdade, somente a verdade:
- aceita o salário X? (aceita fulano como seu legítimo esposo)
- quais são as suas características que nos fariam contratá-la? (na alegria)
- aceita trabalhar aos finais de semana? (na tristeza)
- tem português impecável? (na saúde)
- aceita trabalhar no horário Y? (na doença)
- cite as maiores realizações de sua carreira (por todos os dias da minha vida)
- aceita o salário X? (aceita fulano como seu legítimo esposo)
- quais são as suas características que nos fariam contratá-la? (na alegria)
- aceita trabalhar aos finais de semana? (na tristeza)
- tem português impecável? (na saúde)
- aceita trabalhar no horário Y? (na doença)
- cite as maiores realizações de sua carreira (por todos os dias da minha vida)
terça-feira, 5 de maio de 2015
Hostess de metrô
Eu estava saindo de um vagão na linha azul do metrô com aquela confiança
natural, um quase tédio, de saber para onde exatamente estava indo, quando fui
abordada por um jovem com dúvidas nos olhos e nos lábios. Ela me perguntou como
fazia para ir para a estação República. Respondi que estava indo para o mesmo
caminho e caminhamos juntas. Ela confessou que mora em Guarulhos e não costuma
andar de metrô. Era por volta de 14:00 e ela disse: Nossa! É sempre cheio
assim? Respondo que ainda não está cheio. Ela disse: Como vou lembrar desse
caminho todo? Eu respondi: Se você vier todos os dias, logo estará andando de
olhos fechados. Informei a jovem a chegada da sua estação de destino. Ela
agradeceu e seguiu seu caminho. E eu fui a Hostess do Metrô para ela. Todos os
dias o transporte ganha novos usuários que nós usuários rotineiros mal
percebemos, a menos que sejamos solicitados para ajudá-los a achar seu lugar na
dança.
quarta-feira, 1 de abril de 2015
A lotação das onze horas da noite
Cada
horário do dia a condução tem um clima diferente. A lotação das 23h00 sai do
ponto final na frente do metrô, e vai lotando pelo caminho. É uma viagem um
pouco mais silenciosa. Quem conseguiu lugar sentado vem dormindo um pouco, para
compensar as seis horas dormidas diariamente quando o corpo gostaria de mais
horas. Quem está de pé fica com o olhar no vazio, os braços segurando as barras
e aquela sensação de final de mais um dia, a roupa suada de outro dia de
batalha. Os pés mal veem a hora de chegar em casa e se livrarem dos sapatos,
principalmente os que se equilibraram nos saltos o dia todo. A maioria são
jovens, com mochilas, voltando das escolas, faculdades e universidades, antes
ou depois da jornada de trabalho, voltam de uma jornada dupla. Mulheres partem
para a jornada tripla em casa, onde há um tanque, pia, máquina de lavar, fogão,
algum deles vai ter que ser usado ainda hoje, para adiantar o serviço de
amanhã. Alguns serão recebidos por um cão abanando o rabo, ou por um gato
dormindo na sua cama a sua espera. Alguns serão recebidos por suas mães
perguntando se eles querem comer algo antes de tomar banho e dormir. Outros
encontrarão os pais ou o cônjuge dormindo. Outros não encontrarão ninguém.
Todos voltando para seus bairros dormitórios, dos quais muitos saíram nas
primeiras horas da manhã, alguns antes do sol nascer. Estes só veem o bairro as
escuras quando saem, e quando voltam.pés mal veem
a hora de chegar em casa e se livrarem dos sapatos, principalmente os que se
equilibraram nos saltos o dia todo. A maioria são jovens, com mochilas,
voltando das escolas, faculdades e universidades, antes ou depois da jornada de
trabalho, voltam de uma jornada dupla. Mulheres partem para a jornada tripla em
casa, onde há um tanque, pia, máquina de lavar, fogão, algum deles vai ter que
ser usado ainda hoje, para adiantar o serviço de amanhã. Alguns serão recebidos
por um cão abanando o rabo, ou por um gato dormindo na sua cama a sua espera.
Alguns serão recebidos por suas mães perguntando se eles querem comer algo
antes de tomar banho e dormir. Outros encontrarão os pais ou o cônjuge
dormindo. Outros não encontrarão ninguém. Todos voltando para seus bairros
dormitórios, dos quais muitos saíram nas primeiras horas da manhã, alguns antes
do sol nascer. Estes só veem o bairro as escuras quando saem, e quando voltam.
segunda-feira, 2 de março de 2015
Comentários irônicos sobre duas notícias de fevereiro de 2015
Notícia 1- corte da internet móvel após o fim da franquia
Notícia 2 -juiz que quer tirar o whatsapp do ar
Diante dessas duas situações o que podemos fazer para continuar nos comunicando com outras pessoas sem internet e aplicativos de mensagens?
a- por falta de opções retornar ao bom e velho SMS
b- mandar cartas pelo correio, gastando papel, envelope, selos, e claro com uma demora para entrega das cartas
c- mandar um falcão treinado ou pombo correio entregar mensagens escritas a mão
d- descobrir como se comunicar por telepatia
Notícia 2 -juiz que quer tirar o whatsapp do ar
Diante dessas duas situações o que podemos fazer para continuar nos comunicando com outras pessoas sem internet e aplicativos de mensagens?
a- por falta de opções retornar ao bom e velho SMS
b- mandar cartas pelo correio, gastando papel, envelope, selos, e claro com uma demora para entrega das cartas
c- mandar um falcão treinado ou pombo correio entregar mensagens escritas a mão
d- descobrir como se comunicar por telepatia
sábado, 28 de fevereiro de 2015
Pequena teoria conspiratória da atualidade brasileira
O aumento das passagens de ônibus, aliado ao
corte da internet móvel após o fim da franquia pode ser uma grande
manobra para manter as pessoas em casa, com menores condições de
engajamento em manifestações e movimentos sociais, enquanto os deputados
recebem verba para viajar com as suas esposas o povo continua pobre,
andando em transporte lotado e agora quase incomunicável, ou comunicável
pelos dois dias que dura a franquia... seus momentos de descontração no
celular no meio do caos estão limitados, nada de conversar com
amiguinhos, o jeito é ouvir música e se distrair com joguinhos, enquanto
reza/ora/ para que haja um juiz capaz de acabar com a farra dos
deputados e das operadoras de telefonia celular.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
São Paulo 461 anos
Nos mais de trinta anos que tenho de vida em São Paulo nunca imaginei
que em um de seus aniversários eu desejaria uma grande chuva, não apenas
nas represas, mas uma chuva de fé, de bom senso, de educação, uma chuva
que nos ensinasse a economizar mais água, a não jogar lixo nas ruas, a
não ser folgado, que essa chuva nos ensinasse logo e rápido porque olha
não sei mais o que dizer, pensar, sentir, acreditar...
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