O meu aniversário em 2014 caiu numa sexta feira. Eu não tinha nada de espacial para fazer. Nenhuma festa, nenhum convite para sair. Eu não trabalhava, não teria abraços de colegas. Eu estaria em casa. Era um 23 de maio nublado, eu vivia os oito primeiros meses de um período de desemprego, e pós término de uma relação. Era um período de luto. Meu pai decidiu visitar um amigo internado no hospital Dante Pazanese e me chamou para ir com ele. Eu fui pensando "nossa meu niver e eu tô indo visitar alguém no hospital aff". No caminho o ônibus ia pela Avenida 23 de maio e eu pensando que nunca tinha andado na avenida 23 de maio no dia 23 de maio. Fizemos a visita, voltamos para casa, não me lembro muito desse dia. O que eu mais lembro era o meu sentimento de frustração, de expectativas não concretizadas. Foi um dia sem graça porque eu esperava mais, porque eu simplesmente não aceitava o que tinha em mãos...
23 de maio de 2017, meu primeiro aniversário sem pai, me fez olhar para trás e olhar o 23 de maio de 2014 como um dia especial. Era um dia comum, ordinário e justamente por isso era um dia bom, eu só estava andando de ônibus pela cidade com meu pai, como um dia qualquer, como fizemos por décadas, sem saber, sem sequer imaginar que aquele seria o antepenúltimo aniversário que eu teria ele por perto... Perder alguém revoluciona a forma de olhar o conteúdo e a passagem dos dias, transformando o comum em extraordinário.
Viva os dias ordinários, pode ser que um dia eles sejam ressignificados como pérolas escondidas no cotidiano...
Há 12 anos